Unidade 2

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Resumo, páginas 44 á 64
Marcella Grande Villaraco
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Marcella Grande Villaraco
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    Do Artesanato á Manufatura Moderna
    O PIONEIRISMO INGLÊS NA INDUSTRIALIZAÇÃO Carros, motocicletas, trens, lâmpadas, sacos plásticos, computadores, celulares, cosméticos, televisão, geladeira, fogão, eletrodomésticos... Você consegue imaginar o mundo de hoje sem esses produtos? Saberia dizer o que todos eles têm em comum? Em geral, esses itens, que fazem parte do nosso cotidiano, estão disponíveis para venda e foram produzidos em indústrias. O termo indústria é empregado para nomear todo esforço empreendido pelo ser humano para transformar matérias-primas em produtos, com o auxílio de ferramentas ou máquinas. A indústria moderna surgiu na Inglaterra, no século XVIII, quando máquinas foram inventadas para produzir uma grande quantidade de artigos padronizados, ou seja, de produtos que apresentam forma e composição similares. Entre os séculos XVI e XVIII, a Inglaterra passou por transformações econômicas, sociais e políticas que lhe permitiram acumular capitais para investir no desenvolvimento industrial. Na unidade 1, já estudamos algumas dessas mudanças. Vamos, agora, retomá-las e analisá-las com mais profundidade.    

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    Principais Mudanças
    Crescimento do comércio marítimo. O poderio marítimo inglês, que cresceu durante a dinastia Tudor, ganhou novo impulso com os Atos de Navegação (1651). Eles fortaleceram a marinha mercante inglesa ao estabelecer que o transporte de produtos entre a Inglaterra e suas colônias só poderia ser feito em navios britânicos ou dos próprios produtores. Exploração de colônias e do tráfico negreiro. Os lucros obtidos com a exploração de possessões ultramarinas, principalmente nas Antilhas, e com o comércio de africanos escravizados geraram capitais para impulsionar as manufaturas têxteis inglesas. A modernização da agricultura. Inovações técnicas na agricultura permitiram aumentar a produção de alimentos. Somada a isso, a aceleração dos cercamentos, a partir do século XVIII, resultou no crescimento da criação de ovelhas e na expulsão dos camponeses de suas terras. A maioria deles formou a mão de obra barata das nascentes fábricas inglesas.
    A força política da burguesia. Ao consolidar seu poder político após a Revolução Gloriosa (1688), a grande burguesia inglesa criou condições para o desenvolvimento do capitalismo no país: financiamento público da produção, construção e modernização de portos e navios, assinatura de acordos e declarações de guerra visando garantir mercados para os produtos ingleses e criação de leis para estimular a livre concorrência. Além desses fatores, as grandes reservas de carvão mineral e ferro na Inglaterra também contribuíram para a industrialização do país. Isso porque esses recursos minerais garantiam a fonte de energia necessária para mover as máquinas, bem como a matéria-prima para a fabricação de maquinários, ferramentas e a construção de ferrovias.

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    Antes do surgimento das fábricas na Inglaterra, o artesanato era a principal forma de produção de utensílios básicos do cotidiano. Os artesãos conheciam todas as fases de produção de uma mercadoria: compravam a matéria-prima, confeccionavam o produto e vendiam-no. Além disso, eram donos das próprias ferramentas e tinham autonomia para determinar o tempo e o ritmo de trabalho. Outra característica do sistema de artesanato era a baixa produtividade, já que as mercadorias eram feitas por apenas um trabalhador. Algumas vezes, ele contava com o auxílio de um ou outro aprendiz, mas isso não garantia o aumento da produção. Por essa razão, os artesãos só conseguiam atender às necessidades do mercado local. Durante os séculos XV e XVI, buscando acelerar a produção, empresários se associaram aos artesãos, desenvolvendo, assim, o sistema doméstico. Nele, o artesão recebia a matéria-prima e se comprometia a entregar a mercadoria pronta num determinado prazo para o empresário, que assumia a tarefa da comercialização. Nesse sistema, o artesão ainda tinha o controle sobre todo o processo de produção, mas deixava de ser responsável pela aquisição da matéria-prima e perdia o contato direto com o mercado.
    A autonomia do Artesão

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    Existentes na Europa desde o século XV, as manufaturas começaram a se expandir, sobretudo, a partir da segunda metade do século XVII. Nesse sistema, dezenas ou centenas de pessoas ficavam concentradas num só espaço e trabalhavam, todos os dias, por um número determinado de horas. Um novo personagem entrava em cena: o patrão, que mantinha funcionários encarregados de vigiar os trabalhadores. Na manufatura, os trabalhadores não eram donos dos instrumentos de trabalho, nem tinham mais controle sobre o ritmo da produção. Gradualmente, eles também perderam o conhecimento sobre a totalidade do processo produtivo: agora, as tarefas eram divididas e cada pessoa executava apenas uma etapa da fabricação, em troca de um salário fixo. Assim como nos ateliês, o trabalho no interior das manufaturas também era feito de modo artesanal, com o auxílio de ferramentas e máquinas simples, como as rodas de fiar e os teares manuais.
    A Produção Manufatureira

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    Na segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, a manufatura começou a ser substituída pela maquinofatura. Contínuos inventos no setor de fiação permitiram que as novas máquinas, operadas por poucos trabalhadores, aumentassem a velocidade e a precisão da produção. A tarefa do trabalhador era alimentar a máquina, controlar sua velocidade e zelar por sua manutenção. O setor têxtil foi pioneiro na industrialização. O fato de a produção artesanal têxtil ser uma das mais antigas, remontando às primeiras civilizações do Oriente Próximo, possibilitou que várias inovações fossem feitas no setor ao longo dos anos, tanto no Oriente quanto no Ocidente. As viagens e transações comerciais muitas vezes permitiam que inovações técnicas dos dois lados fossem compartilhadas e difundidas. Um exemplo desse intercâmbio de conhecimentos é o tear de fitas, trazido do Oriente e aperfeiçoado no Ocidente. Ele permitia tecer várias fitas ao mesmo tempo com o emprego de um único operário. Outra razão que explica o pioneirismo do setor têxtil na industrialização foi o interesse dos fabricantes em investir em inovações tecnológicas na produção, sem muitos custos. A Inglaterra já dominava o comércio mundial de tecidos manufaturados de algodão, que tinha dois fortes mercados: o tráfico de escravizados na África, principalmente, e as colônias europeias na América. Antes de surgirem as primeiras fábricas, os tecidos de algodão comercializados pelos ingleses eram comprados principalmente na Índia, onde a Companhia Britânica das Índias Orientais exercia grande influência econômica, política e militar. Além de vender tecidos a baixo custo para os mercadores ingleses, a Índia forneceu o algodão, matéria-prima que abasteceu as manufaturas e as primeiras fábricas têxteis criadas na Inglaterra. Resumindo, a conjunção de experiência no setor, matéria-prima, capitais, mão de obra barata vinda dos campos, vasto mercado e leis que estimulavam a livre iniciativa possibilitaram que a Inglaterra desse o grande salto na produção de tecidos. Assim, foi criado o sistema fabril, ou seja, a indústria moderna. Reunindo máquinas operadas por trabalhadores, a fábrica era capaz de multiplicar a quantidade de artigos produzidos a um custo muito baixo.  
    A MECANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

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    A madeira era o material básico empregado na fabricação das primeiras máquinas têxteis, que eram colocadas em movimento principalmente pela energia hidráulica. A dependência em relação à força da água levava muitos proprietários a instalar suas indústrias à margem dos rios. Por que então o aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt, em 1769, foi adotado como marco da Revolução Industrial? A importância da máquina a vapor nesse momento foi fornecer a força necessária para bombear a água das minas de carvão e extrair um mineral de melhor qualidade. O carvão foi o combustível que permitiu desenvolver a metalurgia do ferro. As contínuas inovações na máquina a vapor e na fundição do ferro promoveram a grande mudança tecnológica da Revolução Industrial: a obtenção de um ferro barato que pôde substituir a madeira e ser utilizado na fabricação de máquinas, pontes, navios e ferrovias. Veja os principais inventos que permitiram a mecanização da produção têxtil, que foi a primeira indústria moderna.
    Os inventos Da revolução Industrial
    Lançadeira volante (1735). Inventada por John Kay, a máquina permitia fabricar tecidos largos em menos tempo e com reduzida mão de obra. Spinning jenny (1764). Invento de James Hargreaves que consistia em uma roda de fiar na qual o artesão controlava 8 fusos de uma vez, podendo chegar a 80 fusos. Water-frame (1769). Patenteado por Richard Arkwright, o invento usava a água como força motriz para produzir fios mais grossos, permitindo a fabricação de tecidos puros de algodão. Mule-jenny (1779). Inventada por Samuel Crompton, a máquina cruzava a tecnologia da jenny com a da water-frame, fabricando um fio fino e resistente, que podia ser utilizado na produção de tecidos de algodão, musselinas e de vários outros materiais. Muitas técnicas aplicadas na criação dessas máquinas resultaram de estudos anteriores à Revolução Industrial. A grande contribuição desses inventores foi reunir conhecimentos já existentes e aperfeiçoá-los com uma finalidade prática: a fabricação de máquinas que aumentavam de maneira espetacular a velocidade da produção. A concentração dos trabalhadores na fábrica, submetidos à rígida disciplina, permitiu baratear ainda mais os custos de produção e elevar os lucros dos proprietários.

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    Ao longo dos séculos XVIII e XIX, inúmeras máquinas foram inventadas para automatizar processos produtivos já existentes, como a fiação e a tecelagem. O grande salto para a produção em larga escala ocorreu quando essas máquinas passaram a ser movimentadas por alguma força motriz não humana, e isso ocorreu em espaços que passaram a ser chamados fábricas. As primeiras fábricas Construídas na década de 1770, na Inglaterra, as primeiras fábricas aproveitavam o movimento da água dos rios para mover máquinas têxteis, permitindo a produção de fios e tecidos em um ritmo mais veloz do que nas manufaturas.  
    AS MÁQUINAS NA REVOLUÇÃO

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    O motor da fábrica O fluxo da água do rio empurrava as pás da roda-d’água, que girava. Energia para as máquinas Através de engrenagens, o movimento da roda era transmitido para as máquinas da fábrica. No ritmo da máquina O movimento das máquinas impunha aos trabalhadores um ritmo de trabalho acelerado.
    As Primeiras Fábricas

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    Por séculos, inventores tentaram usar o vapor como fonte de energia. No século XVIII, uma sucessão de inovações técnicas permitiu aperfeiçoar os motores a vapor. A máquina a vapor inventada em 1769 pelo engenheiro escocês James Watt foi, por sua eficiência, revolucionária. A máquina de Watt, aperfeiçoada mais tarde com outros inventos, foi empregada como força motriz nas minas de carvão, nas fábricas e nos transportes.
    A passagem para o vapor

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    A concentração dos trabalhadores num mesmo espaço, a divisão de tarefas, o fim da autonomia do artesão e o surgimento do patrão foram as mudanças fundamentais que marcaram o surgimento das fábricas. Com a mecanização, o trabalhador passou de produtor a operador de máquinas, pois dominava apenas uma etapa do sistema de produção e não todo o processo. As máquinas contribuíram decisivamente para criar um novo conjunto de valores e uma nova mentalidade, sobretudo nas cidades, onde as fábricas se concentravam. O mercado se tornou mais impessoal, pois os trabalhadores não conheciam mais os consumidores dos produtos que eles fabricavam. Com o avanço tecnológico, cada vez mais o ritmo da vida e do trabalho deixou de ser determinado pelo ritmo da natureza e do corpo e passou a acompanhar o tempo da máquina. Na sociedade urbano-industrial, as pessoas passaram a depender da tecnologia, e a eficiência passou a ser medida pelo menor tempo gasto na produção. Em outras palavras, o tempo passou a valer dinheiro. Nesse contexto, o relógio ganhou grande importância nas fábricas e na vida das pessoas.
    O TRABALHO NO SISTEMA FABRIL

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    Uma das mudanças de hábito mais significativas que a fábrica trouxe foi o controle do tempo. Diferentemente das áreas rurais, onde a medição do tempo estava relacionada aos ciclos da natureza e às tarefas diárias no campo, nas cidades havia a disciplina do relógio. Os relógios já existiam antes da Revolução Industrial, mas foi a necessidade de sincronizar o trabalho das fábricas que ampliou seu uso e fabricação. Com o relógio, foi possível disciplinar o horário de entrada e saída dos trabalhadores, o horário de almoço e o tempo gasto para realizar as tarefas da produção. Dentro da fábrica, os vigilantes e supervisores garantiam que os trabalhadores respeitassem os horários. Os patrões também instituíam prêmios para os operários mais disciplinados e multas para os descumpridores de horários e de outras normas. “‘[...] na realidade não havia horas regulares: os mestres e os gerentes faziam conosco o que desejavam. Os relógios nas fábricas eram frequentemente adiantados de manhã e atrasados à noite; em vez de serem instrumentos para medir o tempo, eram usados como disfarces para encobrir o engano e a opressão [...].’” Capítulos na vida de um garoto da fábrica de Dundee, na Escócia [1887]. In: THOMPSON, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 294. Fora da fábrica também se desenvolveu a valorização do tempo dedicado ao trabalho e à produção. O “tempo útil”, o tempo que rende dinheiro, ajudava a constituir uma nova moral e justificava a perseguição policial aos desocupados.
    A ditadura do Relógio

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    O TRABALHO FEMININO E INFANTIL A exploração do trabalho dos operários tornou-se fonte de enormes lucros para os empresários. Em geral, a jornada diária era de quinze horas, e os salários eram baixíssimos. Além disso, acidentes de trabalho e doenças decorrentes das condições insalubres das fábricas ocorriam com frequência. As mulheres entraram nas fábricas visando complementar a renda familiar. Mas, como legalmente elas viviam sob a tutela de seus pais ou maridos, seu salário não era visto como essencial para a família. Logo, os industriais usavam essa situação para pagar salários inferiores às mulheres, ainda que elas executassem as mesmas tarefas que os homens. A baixa remuneração e a imagem que se tinha das mulheres como pessoas dóceis e submissas levaram os empresários a contratar cada vez mais a mão de obra feminina. Os donos das fábricas e das minas também empregavam muitas crianças, que começavam a trabalhar por volta dos 7 anos de idade. O trabalho era monótono e o cansativo, e o salário correspondia, em média, à quinta parte do que era pago aos adultos.
    Trabalho
    AS MORADIAS DOS TRABALHADORES A maior parte das casas operárias se localizava próximo às fábricas e era construída por ordens dos próprios empregadores, que as alugavam aos trabalhadores. As casas, geralmente de dois andares e geminadas, abrigavam um grande número de pessoas. Os banheiros eram fossas que ficavam fora da casa, pois não existia rede de esgoto. A água, por sua vez, era fornecida em bicas, poços e fontes públicas espalhadas pela cidade. Nessas péssimas condições, diversas doenças, como a cólera e a tuberculose, atingiam com frequência os trabalhadores e suas famílias. A situação de miséria em que viviam os operários das fábricas inglesas do século XIX foram descritas pelo filósofo alemão Friedrich Engels (1820-1895): “Quanto às grandes massas da classe operária, o estado de miséria e incerteza em que vivem agora é tão duro quanto antes — ou mesmo pior. O East End de Londres é um pântano cada vez mais extenso de miséria e desespero irremediável, de fome nos períodos de desemprego e de desagregação física e moral, nas épocas de trabalho.”

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    O sucesso econômico do sistema de fábricas não apenas elevou a produtividade e disponibilizou para o consumo artigos novos e mais baratos; ele transformou a vida humana. Talvez uma das mudanças mais importantes produzidas pela grande indústria tenha sido a configuração de uma nova sociedade, com a consolidação de duas classes sociais antagônicas. Burguesia. Classe social constituída dos proprietários das fábricas, das máquinas, dos bancos, do comércio, das redes de transportes e das empresas agrícolas. A origem do termo é o burgo, aglomerado urbano da Idade Média onde os habitantes se dedicavam ao comércio e ao artesanato. A partir do século XVIII, a burguesia impôs cada vez mais seu domínio sobre a sociedade.   Proletariado. Classe social composta pelo operariado, que vive do salário que recebe. Como não tem meios para sobreviver por conta própria, ele vende sua força de trabalho para o capitalista em troca de um salário. O salário, porém, paga apenas uma parte do tempo de trabalho do operário nas fábricas. O restante é apropriado pelo capitalista. Com baixíssimos salários, jornadas de trabalho extenuantes e ausência de direitos trabalhistas, o operariado inglês, ao longo do século XIX, construiu formas de organização e mobilização coletivas visando melhorar suas condições de trabalho e de vida. Assim, da mesma forma que a Inglaterra foi pioneira na Revolução Industrial, ela também foi o cenário das primeiras lutas do movimento operário.
    Uma nova Divisão Social

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    A ORGANIZAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA Uma das primeiras formas de resistência ao sistema fabril foi a ação dos quebradores de máquinas. Alguns desses grupos se tornaram bastante conhecidos, como os da região de Lancashire, que atuaram entre 1778 e 1780, e os ludistas, que surgiram no princípio da década de 1810. Os quebradores lutavam contra as longas jornadas e as péssimas condições de trabalho, bem como defendiam a criação de leis trabalhistas e o fim das dispensas arbitrárias. Eles invadiam as fábricas, em geral à noite, e destruíam as máquinas. Esses trabalhadores foram reprimidos com violência, e alguns dos líderes acabaram presos, julgados e executados. Alguns historiadores consideram que os ludistas eram corajosos, mas ingênuos, pois atribuíam a origem de seus problemas às máquinas, e não aos proprietários delas. Para esses autores, os quebradores de máquinas não conseguiam perceber a mudança profunda na produção capitalista industrial e nas novas estratégias de dominação de classe. Pesquisas mais recentes, no entanto, tendem a associar os ludistas a uma reação radical e consciente contra o sistema fabril. Segundo essa nova perspectiva, a principal intenção dos ludistas era mostrar que a fábrica não era a única, nem a melhor forma de organização do trabalho e da vida.
    A FUNDAÇÃO DOS PRIMEIROS SINDICATOS Com o fracasso do ludismo, o movimento operário britânico passou a discutir a necessidade de criar associações de operários, como já faziam os patrões, capazes de organizar a luta pela conquista de direitos de forma mais eficiente. As primeiras associações operárias britânicas foram criadas no final do século XVIII, como a de sapateiros de Londres e a de tecelões de Glasgow, na Escócia. Elas funcionavam na clandestinidade, pois os operários temiam a repressão policial e as demissões no trabalho. Em 1799, as associações foram formalmente proibidas, e seus dirigentes, presos. Em 1824, após muita pressão dos trabalhadores, o Parlamento britânico aprovou uma lei permitindo o direito de associação da classe operária. Formaram-se então as trade unions, ou sindicatos, como essas associações passaram a ser conhecidas. Elas organizavam o operários para lutar por redução da jornada de trabalho, aumento salarial, limitação do trabalho infantil, entre outras reivindicações. Com a nova lei, houve uma explosão de associações operárias em toda a Inglaterra, concentradas principalmente na indústria têxtil e na atividade siderúrgica.
    A organização e Fundação

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    O cartismo nasceu em Londres, em 1838, e logo adquiriu caráter nacional. O movimento começou quando uma associação de trabalhadores enviou ao Parlamento inglês a Carta do Povo, um documento reivindicando o voto secreto, o sufrágio universal masculino, o direito dos operários a candidatar-se às cadeiras do Parlamento, entre outras reivindicações. A petição recebeu mais de 1 milhão de assinaturas de trabalhadores. A recusa do Parlamento em aprovar a carta, porém, desencadeou uma onda de greves, manifestações e prisões. Em novembro de 1839, uma marcha de mineiros e ferreiros em Newport, no País de Gales, em apoio ao movimento cartista, foi recebida a tiros pela polícia, causando a morte de 22 trabalhadores. Por volta de 1840, o movimento apresentou outra petição, bem mais radical que a primeira. Além das reivindicações iniciais, o documento exigia aumento de salário e redução da jornada de trabalho. A nova petição recebeu cerca de 3,3 milhões de assinaturas, mais da metade da população masculina inglesa da época. Aos poucos, as lutas operárias surtiram efeito. As leis trabalhistas do século XIX e início do século XX melhoraram as condições de trabalho nas fábricas e minas inglesas, além de fortalecer as lutas dos trabalhadores de outros países.
    O Movimento Cartista

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    O avanço da industrialização alterou significativamente o cotidiano das pessoas. Nas ruas, assistia-se ao surgimento de um novo fenômeno: a multidão. A impessoalidade passou a caracterizar as relações entre os moradores. Diferentemente da vida no campo ou em pequenos agrupamentos urbanos, as pessoas que se cruzavam nas ruas não se conheciam. Em meio à multidão, eram inevitáveis os empurrões e os encontrões, a mistura de ruídos e odores, as rápidas trocas de olhares. O olfato passava a conviver com o cheiro do lixo que se acumulava nas ruas. Os ruídos das máquinas e dos transeuntes tornavam o silêncio quase impossível. As pessoas em movimento eram um espetáculo novo para o olhar. A criminalidade crescia com a dificuldade de controlar as multidões. Na cidade de Londres, que ultrapassou 1 milhão de habitantes no final do século XVIII, os relatos de crimes escandalizavam e atemorizavam os moradores. Em 1829, foi criada a Scotland Yard. A princípio formada por policiais à paisana que vigiavam as ruas e prendiam criminosos em flagrante, em 1878 uma divisão especial de investigação passou a atuar na solução de grandes roubos e assassinatos. O antagonismo entre policiais e criminosos estimulou a imaginação de escritores. Em 1887, Arthur Conan Doyle lançou Sherlock Holmes, narrativa policial em que a competência da Scotland Yard era colocada em xeque pelo famoso personagem, capaz de resolver crimes que ficaram insolúveis na vida real.
    A Multidão das Cidades

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    Vários autores procuraram compreender as cidades em suas narrativas. Era por meio do texto, também, que escritores e leitores aprendiam a lidar com o fascínio e o medo que as metrópoles provocavam. O inglês Charles Dickens (1812-1870), por exemplo, elegeu a vida nas cidades inglesas como o tema preferencial da sua literatura. Parte importante de suas obras trata de ambientes de trabalho degradados, das más condições de vida dos operários e de relações humanas desgastadas em decorrência das dificuldades cotidianas. O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) foi um observador sagaz das metrópoles e captou com precisão a melancolia, os temores e as angústias de seus moradores. Edgar Allan Poe (1809-1849), escritor estadunidense, no conto O homem da multidão, de 1841, constatou a solidão do cidadão urbano, apesar de viver cercado de gente. “Há não muito tempo, ao fim de uma tarde de outono, eu estava sentado ante a grande janela do Café D... em Londres [...]. Muitos dos passantes tinham um aspecto prazerosamente comercial e pareciam pensar apenas em abrir caminho através da turba. Traziam as sobrancelhas vincadas, e seus olhos moviam-se rapidamente; quando davam algum encontrão em outro passante, não mostravam sinais de impaciência; recompunham-se e continuavam, apressados, seu caminho. Outros, formando numerosa classe, eram irrequietos nos movimentos; tinham o rosto enrubescido e resmungavam e gesticulavam consigo mesmos, como se se sentissem solitários em razão da própria densidade da multidão que os rodeava.”
    A literatura das Multidões

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    Muitas mudanças que ocorreram com a Revolução Industrial baseavam-se na crença de que os recursos naturais eram infinitos e estavam a serviço do ser humano. Não havia a ideia de que o consumo desenfreado de matérias-primas e o uso de combustíveis fósseis pudessem causar danos ambientais, em muitos casos irreversíveis, e alterações climáticas que afetariam a vida humana. A atividade industrial de larga escala impulsionou o crescimento urbano e acarretou grandes impactos ambientais na Inglaterra. A instalação de fábricas levou à poluição das águas e do ar e à alteração do hábitat de muitas espécies. Um exemplo dessa mudança é o das mariposas Biston betularia da cidade de Manchester. A maioria dessas mariposas tinha coloração branca, o que possibilitava sua camuflagem nos troncos das árvores. Com o surgimento das fábricas e o aumento da poluição do ar, os troncos das árvores tornaram-se escuros. As mariposas brancas, assim, praticamente deixaram de existir, pois, como não podiam mais se camuflar nas árvores, eram facilmente identificadas pelos predadores. Além disso, a construção de ferrovias e de novas fábricas acarretou o desmatamento de grandes áreas de vegetação. A população dos grandes centros industriais cresceu desordenadamente, causando muitos problemas urbanos, como o acúmulo de lixo e dejetos. Atualmente, o modelo de produção implantado com a Revolução Industrial sofre inúmeras críticas. Campanhas de estímulo ao consumo consciente dos recursos naturais e ao reúso e à reciclagem de materiais procuram diminuir o uso de matérias-primas no dia a dia. Dessa forma, procura-se garantir a qualidade de vida das populações atuais e o usufruto desses recursos pelas gerações futuras.
    Os Impactos Ambientais

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    As inovações tecnológicas inicialmente aplicadas ao setor têxtil se estenderam para a mineração, a metalurgia, os transportes e a agricultura. A Inglaterra ampliou sua participação no mercado mundial, impulsionada pelo forte apoio do governo nacional. Na África e na Ásia, os governos acabaram cedendo às pressões diplomáticas da Inglaterra e abriram seus mercados aos produtos britânicos. Os novos países independentes da América Latina, procurando afastar a influência das antigas metrópoles, aproximaram-se dos ingleses, contraindo dívidas e assinando acordos políticos e comerciais com a Inglaterra. A partir da Revolução Industrial, a Inglaterra passou a dificultar a entrada de tecidos, especiarias e outros produtos indianos no mercado britânico, ao mesmo tempo que inundava a Índia com os produtos ingleses. A produção artesanal indiana de tecidos foi levada à ruína. O crescimento da economia industrial inglesa foi impulsionado pela expansão das ferrovias. A primeira linha férrea comercial foi inaugurada na Inglaterra em 1830. Na França, na Prússia e na Bélgica, para onde a industrialização se estendeu, as ferrovias entraram em funcionamento ao longo daquela década. Vencendo distâncias, abrindo países ao mercado mundial e integrando povos e culturas, elas exibiam o poder e a velocidade que marcavam a nova era. A prosperidade britânica e a expansão da industrialização para outros países e regiões europeias em meados do século XIX fortaleceram os defensores do liberalismo econômico. A Inglaterra tornou-se modelo para os economistas que combatiam a política mercantilista do Antigo Regime, com suas medidas para regulamentar a economia.
    A Supremacia No comércio
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