A escola do futuro não pode ignorar os avanços tecnológicos que ocorreram nas últimas décadas. No entanto, precisa ter nas tecnologias digitais um apoio, e não o principal protagonista do processo de aprendizagem. O uso dessas ferramentas ainda exige adaptações dos sistemas de ensino. A principal delas passa pelo investimento na formação dos professores
Na avaliação de Liliana Passerino, professora do Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação e da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), existem expectativas muito altas sobre os benefícios do uso da tecnologia na educação.
Para ela, é preciso, antes, voltar o olhar ao planeta de forma mais ampla e pensar o ensino como a base para se construir um mundo melhor. "Estamos enfrentando uma crise moral e política que se alastra pelas nações", afirma. "A educação é um alicerce para a sociedade do futuro. Sem ela, não teremos condições de superar os problemas que temos causado ao longo dos séculos", complementa.
A tecnologia, segundo ela, terá um papel fundamental nesse processo, no sentido de promover ações que contribuam para a solução dessas questões. Por isso, a escola do futuro, na visão da especialista, é aquela centrada na pedagogia do problema, que trabalha com questões reais e que se utiliza da tecnologia como um elemento no processo pedagógico. É também uma pedagogia da pergunta, que busca dar voz ao aluno e incentivá-lo a se questionar. Assim, a tecnologia pode fazer parte de todas as disciplinas, de química a língua portuguesa, como recurso mediador de aprendizagens.
Liliana afirma que o ensino brasileiro está muito centrado no conteúdo, e não nas estratégias metodológicas, o que dificulta mudanças estruturais nessa linha. "É um modelo de educação bancária, já criticado por Paulo Freire há décadas. Nós não conseguimos fugir muito disso", diz. "O aluno precisa saber o que vai comunicar e por que está comunicando, e isso se aprende fazendo uso da língua portuguesa como uma prática cultural, o que significa valorizar áreas como artes, filosofia e sociologia."
"O aluno precisa saber o que vai comunicar e por que está comunicando, e isso se aprende fazendo uso da língua portuguesa como uma prática cultural, o que significa valorizar áreas como artes, filosofia e sociologia."Liliana Passerino, professora do Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação e da Faculdade de Educação da UFRGS
A escola também não pode se omitir, salienta a especialista: ela precisa fazer uso das tecnologias digitais para mostrar as possibilidades desses recursos e evitar que os estudantes sejam meros consumidores ou façam uso equivocado desses instrumentos. Além disso, podem ser grandes aliadas no processo de inclusão de pessoas com deficiência ou dificuldade de aprendizagem. Liliana Passerino coordena na UFRGS o grupo de pesquisa Tecnologia em Educação para a Inclusão e Aprendizagem em Sociedade (Teias), que tem como ênfase o uso de tecnologias na educação para a promoção de processos inclusivos.
Ela ressalta que existem tecnologias digitais que possibilitam a autonomia dessas pessoas nos processos de compreensão e de relação com o outro. "Para isso, muitas vezes não há uma tecnologia específica, mas um conjunto de recursos tecnológicos para que professores, em conjunto com a turma, desenvolvam atividades com diversidade", destaca.
Nesse processo, a produção científica também tem papel fundamental. A Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), criada em 2014, mapeou, este ano, pesquisadores doutores atuantes no Brasil cujas linhas de pesquisa tenham relação com a educação. Os resultados preliminares do estudo mostram que há pelo menos 25 mil com esse perfil. Desses, 2.683 são altamente produtivos e colaborativos na área. Foi feita ainda uma filtragem desse grupo de pesquisadores, identificando os mais produtivos dentro de 21 áreas estratégicas, que englobam educação, psicologia, sociologia, antropologia, neurociências, nutrição, educação física, ciência da computação, fonoaudiologia, entre outras.
Referência
https://www.correiobraziliense.com.br/escolhaaescola/papel-da-tecnologia-escolha-a-escola/